Cala-te a boca
E sente o silêncio que nos envolve
Negue teu corpo
E se torne parte do vazio
Abra teus olhos
Encontre a cólera em meus olhos opacos
Sinta o cheiro de ferro no ar
E apenas responda para esse corpo inerte
Porque meu sangue continua escorrendo por suas mãos?

Lei do mais forte

Dizem que a primeira lei do mundo foi a lei da sobrevivência, também conhecida como Lei do mais forte. O mundo sempre foi um lugar cruel e para os mais fracos só é permitido caírem em desespero diante da superioridade dos mais fortes.

Até hoje essa lei obsoleta segue imbatível.

Sou aquele que eu chamo de alvo. O ponto mais baixo da cadeia alimentar da nossa sociedade. Todos os dias eles acham necessário me lembrar que tenho uma vida horrível. Como se não soubesse disso. Para manter o equilíbrio do mundo, sempre haverá os fracos. Sempre me lembram que não há nada que possa fazer para mudar minha vida. Por eles, ela seria sempre repleta de rejeição, humilhação e escarnio.

Hoje decidi ser mais forte. A retaliação é esperada. Confesso que não esperava que meu sangue jorrasse desse jeito. Eles vão embora, com meu sangue impregnado em suas roupas, felizes por manterem a ordem natural.

Não sei bem o eu aconteceu comigo. Pode-se dizer que estou mais forte. Posso fazer coisas inimagináveis para outros humanos. Nem sei se ainda sou um humano. Vou fazê-los pagar pelo que fizeram comigo durante todos esses anos. Espero que não pensem que é vingança.

É a lei do mais forte.

Pequena creepypasta de um desenho que azucrinava minha infância. Quem adivinhar o desenho ganha um pirulito.

Ele pega os lapis de cor e gizes de cera sem muita firmeza. O atrito dos lápis com o papel é ouvido no grande corredor frio e branco. Figuras disformes começam a se formar e, para ele, representam uma vida normal para uma criança de quatro anos. Passeios com os pais, brincadeiras com os amigos, visitar os avos. Nada disso aconteceu com ele. Dentro daquele quarto ele só conhece a solidão, o desprezo e a pena estampados nos rostos das enfermeiras.

Não há nada nesse quarto que prove que uma criança ficou ali durante os últimos três anos. Aquela criança com olhar vago debaixo das cobertas não recebe visitas a muito tempo. Os brinquedos quebraram e foram jogados fora. As flores murcharam e foram jogadas fora. Só restaram alguns lápis e gizes de cera, cada vez mais curtos, e algumas folhas já amareladas.

“Será que fiz alguma coisa ruim e por isso papai e mamãe não vem me visitar mais?” pensa enquanto desenha um grande sol. “Os médicos sempre me colocam naquelas maquinas grandes e fazem um monte de coisas comigo. Deve ser algum castigo”

Ele é muito pequeno para entender as fofocas que as enfermeiras fazem pelos corredores. Convivendo com a morte e solidão todos os dias, o esporte preferido das enfermeiras, como boas sádicas que são, é discutir entre si as desgraças dos enfermos. Entre os corredores é famosa a história que os pais daquele garoto do quarto 205 são irmãos por parte de pai. Aparentemente, o cretino, após voltar da guerra, largou sua mulher e começou outra família. Eles só descobriram isso quando ela já estava gravida. Ela tinha medo que o aborto pudesse causar alguma complicação futura para ela. Isso causou um tipo raro de câncer na criança, fruto daquela relação incestuosa. Nos primeiros meses, seus pais iam todos os dias, mas depois que adotaram uma menina saudável, eles passaram a ir cada vez menos. Um dia eles não voltaram mais. Eles perderam o interesse naquele corpo tomado pela peste.

Chegou a hora dos remédios. Eles não servem para nada, apenas atrasam o inevitável e lhe garantem mais alguns dias de vida. Dias solitários. Enquanto ministra a dose diária dos remédios, a enfermeira tenta, como sempre, reconforta-lo:

― Não se preocupe, eles vão voltar.

Com a voz fraca e algo que deveria parecer um sorriso ele responde:

― Eu sei.

Quando está saindo, a enfermeira não consegue ouvir o resto da resposta.

“Eles vão voltar.” As palavras ecoam em sua cabeça, mas nada se ouve. “Mas não vai ser por mim.”

Pela primeira vez sente algo novo, além da solidão. Mesmo que ele não entenda isso direito, ele sente ódio. Ódio puro e simples. Mas esse novo sentimento não duraria muito. O caixão lacrado para evitar algum tipo de contaminação impede que seus pais o vejam pela ultima vez.

Eles recebem uma ligação urgente. Sua filha passou mal durante a aula de ballet e foi para o hospital.

Os quatro faróis rasgam a noite e o motor urra quebrando o silencio enquanto os largos pneus esmagam as folhas espalhadas pelo asfalto negro. Em sua boca o terceiro cigarro do dia e no porta-luvas seu revolver esperando para ser usado. “Quero chegar cedo para poder fazer uma grande recepção para ele.”

A pista de mão única é ladeada por arvores secas pela aproximação do inverno. “Quando tudo acabar vou passar uma temporada na Florida. Foda-se a empresa. De qualquer jeito continuo dono dela. Não preciso mais trabalhar. De agora em diante vou levar uma vida de rico esnobe.”

Os pensamentos sobre o futuro e a musica saindo dos alto falantes não conseguem afastar de sua cabeça uma ideia que o incomodava. É uma ideia idiota, mas ainda assim ele não consegue se livrar dela. Desde aquela terça não consegue parar de pensar nos seus problemas. “Acho que é isso que chamam de efeito borboleta. Tudo isso pode ter começado naquela briga ou no acidente do balanço. Eu ter sido internado em um manicômio. Ter me casado com uma puta. Não ter um bom relacionamento com meu único irmão vivo. Ter um maníaco me perseguindo. Tudo deve estar interligado com aquele maldito dia.”

Ensaia uma risada enquanto pega outro cigarro, mas a tosse o impede de rir e o faz pensar que essa ideia não é tão absurda. A pista se torna cada vez mais acidentada à medida que ele se aproxima da resposta da noite passada.

Dois cigarros depois finalmente chega ao seu destino. O velho portão está trancado e não há rastros de pneus. “Ele ainda não chegou. O convidado de honra deve chegar no melhor da festa.” Nos muros alguns folhetos colados sobre o acidente nuclear de 29 anos atrás. Tirando a ação natural do tempo, tudo parecia em ordem, como se ele apenas tivesse passado o fim de semana fora. Parecia que sua família o esperava na varanda da casa. Todos com um sorriso no rosto. Até mesmo Fred estaria sorrindo para ele. Não. Sua cicatriz estaria rindo dele.

Estaciona seu Mercury na frente da casa. Lembra-se da surra que Frank tomou por chamar o Ford Edsel do pai de “vagina dentada”. Coloca o revolver na cintura da calça enquanto sai do carro. “Apesar de tudo éramos uma boa família. Quando será que tudo começou a dar errado? Talvez seja mesmo o efeito borboleta.” Quem iria imaginar que aquela garota feliz das fotos iria encontrar o fim pelas mãos daquele que havia jurado ama-la? Ou que Will, rapaz atlético e fã de baseball, acabaria paraplégico por uma maldita guerra? Sua ultimas palavras foram “Tio Sam não cuida dos seus” enquanto sofria uma parada cardíaca na ala suja do hospital militar da cidade.

Acende outro cigarro enquanto olha para a antiga casa que se ergue imponente entre a grama morta e ervas daninhas. Acha melhor não entrar nela já que não sabe o estado dos alicerces. Olha para cima e vê as janelas amareladas pela poeira. Seu quarto ficava no ultimo andar. Fred estari8a esperando lá? Não. O lugar onde Fred o espera é mais escuro e frio. Mesmo com os braços e pernas quebrados ele o espera sorrindo. Sua cicatriz está rindo dele.

Andando sem rumo acaba encontrando o velho carvalho. Ele está seco, como todas as outras arvores, e as suas raízes aparentam estarem pobres. Aquelas imagens voltam aos seus olhos como um vídeo sem fim: para frente, para trás. O grito e o som de osso quebrando ecoando no silencio da tarde. Braços e pernas dobrados em ângulos estranhos. O sangue tingindo a agua do rio. O rosto virado e os olhos fitando o pequeno Tony na beira do barrando.

Deixa o cigarro cair. “Não posso perder o controle agora.” Respira tão profundamente quanto seus pulmões permitem. Ouve passos esmagando a grama morta. Ele se vira esperando encontrar o maníaco, mas...

Usando uma camisa branca e shorts azuis aquela criança o observa com curiosidade. Seu rosto está impassível, mas uma cicatriz abaixo do olho esquerdo sorri para ele.

―Não é possível – aponta o revolver para aquela figura de um metro e vinte – Você está morto. EU MATEI VOCÊ!

―Eu sei – os lábios da criança se contorcem em um sorriso – Só estou retribuindo o favor.

 

―Então é isso – ele chuta o corpo agonizando barranco abaixo e apanha o revolver, ainda quente pelo uso, do chão – Você morreu fácil demais.

O corpo de Anthony Cougar jaz no pequeno córrego como uma copia da morte de seu irmão. Seu sangue se mistura com a agua radioativa.

Enquanto caminha de volta para a van ele passa em frente da velha casa. “Belo carro. Teria sido ainda mais fácil se você tivesse entrado na casa. É incrível como você nunca suspeitou da notificação falsa que eu mandei.”

Já está dentro da van. Enquanto tira o traje de contenção, acende um cigarro e ri comemorando mais um trabalho bem feito. “É lindo ver a energia nuclear fazendo o trabalho sujo por mim. Hora de destruir a vida de mais alguém.”

A van parte deixando aquela área contaminada para trás com Frank Cougar relaxando no largo banco do motorista. O sangue ainda flui pelo corte e seus olhos fitam o local onde seu carrasco esteve. Seu nome foi Frederick Cougar. Ou seria Anthony Cougar?

Já passa da meia-noite. Só faltam dois dias para o inicio do resto de sua vida. Ele não pode contar com ninguém. Seus pais estão mortos e devido a discussões sobre a administração da firma não tem um relacionamento amigável com o ultimo dos seus irmãos. Aquela com a qual havia passado os últimos anos de sua vida estava sendo comida por vermes agora. “Até imagino o motivo do atraso na galeria. Se a policia examinasse sua virilha destruída aposto que achariam esperma de algum cliente ou ajudante. No final ela não passava de uma puta que encontrei durante uma viagem. Isso não importa mais.”

Ela o traiu. O conselho administrativo o traiu. Seu irmão adoraria vê-lo se perder no seu próprio desespero. Todos lhe deram as costas. Ele não pode culpa-los. Se pudesse também daria as costas para aquela figura decadente encolhida junto dos destroços de um notebook.

Gostaria de desistir de tudo, mas alguma coisa o impede. Entre uma serie de pensamentos acaba se lembrando d’O Iluminado. Já dominado pela loucura, Jack Torrance repete varias vezes coisas como “Venha e tome seu remédio como homem, seu cretino” e “Juro por tudo que vou fazer esse merdinha tomar o seu remédio” enquanto seu taco de roque assobiava pelos corredores escuros no meio das montanhas.

“Eles me traíram. Ele está brincando comigo. Que tipo de homem eu seria se não me vingasse?”

Se levanta e vai até um dos armários perto da televisão.

“Não tenho um bastão de roque, mas também tenho um jeito de obriga-lo a tomar seu remédio.”

Pega seu velho revolver Winchester e analisa sua empunhadura.

“Afinal que tipo de homem eu seria se não pagasse na mesma moeda?”

Já se fez essa pergunta a muitos anos. Talvez encontre finalmente a resposta.

“A matriarca Winchester era atormentada pelos espíritos das pessoas mortas por suas armas e mandou construir uma mansão com portas e escadas falsas, quartos invertidos e outras armadilhas para afugentar os fantasmas. Não preciso me preocupar com os mortos, no momento meu problema é um cretino que, tenho certeza, está vivo.”

Mira no aparelho de som e atira. O som grave ecoa pelas paredes. A casa permanece em silencio.

“Pelo menos por enquanto.”

A chuva ainda cai enquanto ele chora copiosamente em um canto da sua sala à prova de som. Não há problemas em um homem perder as esperanças e desabar, desde que ninguém esteja vendo. A única pessoa que o lembrava de que fora daquele jogo doentio havia um mundo feliz, agora estava morta. Destroçada, sua esposa o havia deixado sozinho. Não. Aonde quer que esteja o maníaco estava o observando, pronto para o próximo movimento nesse tabuleiro torto e gastos onde as peças estavam espalhadas.

Se senta na sua velha poltrona e começa o ritual de beber e fumar novamente. Teria que esperar o próximo movimento do seu oponente se quisesse realmente acabar com isso. Enquanto acende um cigarro seu notebook, em cima da mesa de centro, emite um bip. Havia recebido um e-mail. Alias dois.

O fato de seu próprio e-mail pessoal ser o remetente não o incomodava mais. Ficou surpreso por estar olhando para um possível final dos acontecimentos que começaram naquela manhã chuvosa de terça. Que tal irmos brincar no meu balanço favorito dia 25? Aquela pergunta infantil significava que em três dias tudo poderia acabar. “Finalmente esse merda vai sair do buraco sujo onde se esconde e me falar o seu preço. Em três dias vou voltar a ter uma vida normal de novo.”

Passa os olhos pelo titulo do segundo e-mail enquanto toma um gole de uísque e acende outro cigarro. Você choraria por alguém capaz de fazer isso? Tragando e soltando a fumaça de maneira preguiçosa ele pensa no significado daquela frase. “Aposto que ele espera que eu fique surpreso com isso. Devem ser fotos da época que Alice era uma prostituta. Isso poderia ser um choque para os nossos amigos, mas me casei sabendo da antiga vida dela. Mas realmente estou curioso para saber como ele as conseguiu.”

Um bocejo cortado pela tosse o faz perceber que está com sono. Aperta o botão para desligar o notebook, mas nada acontece. A seta do mouse começa a se mexer. “Tomou o controle do meu notebook. Pois bem, me mostre logo o que você quer.” Com um clique o segundo e-mail é aberto. Ao invés das fotos da sua mulher há apenas um arquivo anexado. Um vídeo de cinco minutos.

Depois de alguns segundos de estática era possível ver um homem entrando no foco da câmera, como se tivesse acabado de liga-lá. De repente, provavelmente colocada na edição do vídeo, começa a tocar Police Truck do Dead Kennedys. O homem para no meio da sala, olha para a direita e volta para a câmera. É possível vê-ló mudando a direção da câmera. O novo foco da câmera mostra alguns cavaletes, uma porta branca aberta para um quarto escuro e grandes janelas com vista para um jardim. “É o estúdio da Alice.” Mais alguns segundos de estática e o verdadeiro show começa. Embalados pela voz de Jello Biafra, sua mulher e um homem estão entrelaçados numa apresentação doentia de bondage. Tony já praticara bondage com sua mulher algumas vezes, mas sempre teve medo de machuca-lá de verdade. Mas lá estavam, imortalizadas em uma câmera, as imagens de sua mulher se derretendo em orgasmos enquanto apanhava de um desconhecido. A musica termina e começa novamente.

“Uma puta...”

Os gemidos aumentam à medida que aquele homem explora aquele corpo esbelto e branco que Tony achou pertencer a ele.

“Ela era uma puta quando nos conhecemos...”

Os gemidos são encobertos pela musica.

“... ela não podia ter filhos por causa de um aborto mal feito. Eu a amava. Eu fiz de tudo para ela ter uma vida normal...”

Seus longos cabelos loiros sobre a mesa fria no centro do estúdio. O homem esbarra em um dos cavaletes derrubando tinta pelo chão.

“... e ainda assim ela era uma puta suja!”

Agora acabou. Os gemidos da mulher e os acordes finais da musica se tornam agudos e destorcidos. O mesmo som é repetido cinco vezes.

O grito. O som de osso quebrando.

Seu grito ecoa nas paredes brancas do aposento. Aos seus pés, os destroços do notebook. A musica parou, mas continua ecoando em seus ouvidos. O grito e o som de osso quebrando.

A chuva que cai lava a cova recém-aberta. Homens e mulheres de preto se reúnem para a ultima homenagem para Alice Taylor Cougar. Parentes, clientes da galeria e conhecidos começam a se dispersar quando as primeiras pás de terra são jogadas sobre o vistoso caixão de mogno. Agora que todos foram embora, ele observa o trabalho dos coveiros em tampar aquela ferida aberta no meio do gramado da ala sul do cemitério municipal. Ele não se importa com a chuva lavando seu rosto e seus pontos abaixo do olho.

Começa a caminhar para o estacionamento. Não há mais nada para ver. O corpo destroçado de sua mulher jaz embaixo da lama agora. A logica lhe diz que foi apenas uma fatalidade, mas ele sabe que não. “Foi esse maldito. A pericia encontrou estranhos cortes nas tubulações do óleo de freio e direção hidráulica que não pareciam ser decorrentes do impacto do carro contra a encosta.” As lagrimas saem dos seus olhos e se confundem com a chuva que cai. “Devia chamar a policia. Mas não tenho provas. Os remetentes desses malditos e-mails são meus e-mails pessoal e profissional. O hacker que eu paguei não conseguiu descobrir o IP do cretino. Sei que a policia me considera suspeito. O que tiver que fazer, vou ter que fazer sozinho.”

Se estivesse calmo pensaria de outra forma. Mas a logica não é mais importante. Isso é uma guerra. E guerras são criadas e ganhas pela loucura.

Está sentado na poltrona de couro surrado na sua sala a prova de som. Na sua frente, além da bebida e do cinzeiro habituais, há vários álbuns de fotos espalhados pela mesa de centro e pelo chão. Enquanto o resto do mundo usa suas câmeras digitais Alice ainda era fiel ao filme. Ela revela as fotos no quarto escuro do seu estúdio. Estão lá os registros das ultimas viagens e festas. O gelo do copo já começa a derreter. “Alice realmente está demorando.”

Na parede ao lado da escada o sistema de som toca alguns acordes destorcidos. “Marilyn Manson, suponho.” Conforme o tempo passa as lembranças ficam mais velhas. Os primeiros anos de casamentos, a lua de mel na Alemanha, as farras da época de solteiro, os anos da faculdade, as festas do colégio, os jantares e reuniões familiares, as brincadeiras de criança, o balanço

(descreve uma parábola em direção ao barranco)

na ponta do velho carvalho.

Sempre que possível seu pai arrumava as pessoas para tirar uma foto seguindo algum padrão: altura, idade, parentesco, etc. enquanto sua mãe costumava escrever os nomes das pessoas no verso das fotos. Entre todas as fotos uma chama sua atenção: formando uma estupida pirâmide etária uma foto dele com os irmãos durante uma reunião de família. Eram cinco irmãos: Ele e Fred por serem os caçulas estavam nas pontas da pirâmide, Frank estava ao seu lado, Bety do lado do Fred e no centro o Will. Apesar dele e Fred serem gêmeos idênticos, uma pequena cicatriz abaixo do olho esquerdo de Fred tornava fácil à diferenciação. Essa cicatriz foi causada por um acidente de bicicleta poucas semanas antes da foto ser tirada. Vira a foto apenas para ver a bela e curvada caligrafia de sua mãe. “Da esquerda para direita. Meus amores: Frederick, Frank, William, Roberta e Anthony.”

Seu cérebro leva um segundo para perceber que algo está errado. Olha novamente a foto. Ao lado da irmã, que estava usando um vestido rosa e botas marrons, está aquela figura pequena usando camisa branca e shorts azuis. No rosto uma cicatriz imitando um sorriso que uma criança dá ao ser pega aprontando. Era Fred Cougar.

“Teria ela se engando? Eu, às vezes, fingia que era Fred e vice versa. Mas depois do acidente isso era impossível.” Respira profundamente. “É isso. A foto foi tirada de longe e o dia está meio escuro. Isso que eu acho que é uma cicatriz por ser só uma sombra. A cicatriz dele era pequena, logicamente não é possível vê-la em uma foto tão antiga.”

Mesmo a logica falando que se trata de algum engano seu desconforto aumenta cada vez mais conforme vê aquele pequeno garoto com uma cicatriz no rosto ser chamado por seu nome, Anthony, em cada vez mais fotos. Começa a falar sozinho, como que querendo convencer a sala que aquilo é um engano, e percebe que sua voz está pastosa. Estaria ele bêbado a ponto de imaginar uma cicatriz no seu rosto de 36 anos atrás?

“This isn’t me I’m not mechanical

I’m just a boy playing the Suicide King…”

Finalmente encontra aquilo que vai provar que tudo está bem. O álbum do período da sua internação no hospital psiquiátrico.

Era um prédio branco muito grande. O belo estilo barroco do prédio quase desviava a atenção das grossas barras de metal nas janelas e do cheiro de urina, sangue, fezes e carne queimada pelos corredores. Ao menos seu pai havia pagado o suficiente para que ele pudesse ficar na ala “humana” do hospital. Lá as grades eram mais finas e o cheiro podre era ofuscado pelo uso maciço de desinfetante.

Logo provaria que todas as outras fotos estavam erradas. Anthony Cougar nunca teve uma maldita cicatriz no rosto. Ali está. Já calmo pelo uso forçado de remédios os médicos tiraram uma foto para mostrarem os progressos no tratamento. O lençol branco puxado até o pescoço cobria as correntes em seus braços e pernas.

Está perdendo o controle de novo. Na foto, um garoto com olhar vago rodeado por enfermeiras. Ela está lá. Abaixo do seu olho esquerdo, com seus cantos repuxados, a cicatriz está sorrindo para ele. Está rindo dele.

Seus gritos são abafados pelas palavras saídas do sistema de som.

“Playing the Suicide King...”

Mesmo que Alice estivesse em casa ela não ouviria o pedido desesperado de seu marido por socorro. Ouviria apenas o silencio habitual da noite.

“Calma! Simplesmente eu estou bêbado e estou vendo coisas. Quando Alice chegar nós vamos transar. Vou fumar enrolado nas cobertas enquanto ela limpa o gozo das coxas. Amanhã quando estiver sóbrio vou ver que as fotos estão normais e eu não tenho nenhuma cicatriz no rosto.”

Está alimentando essa esperança quando o telefone toca.

― Sr. Cougar?

― Sim. Quem fala?

― Aqui é o delegado James. Sinto dizer, mas sua mulher sofreu um acidente de carro e morreu no local.

Ele derruba o telefone. A sua mentira já está desmoronando.

Antes de acusar de maneira direta os amantes dos unicórnios, os gays ambientalistas, vamos aos fatos:

“Unicórnio, também conhecido como licórnio, é um animal mitológico que tem a forma de um cavalo, geralmente branco, com um único chifre em espiral. Sua imagem está associada à pureza e à força. Segundo as narrativas são seres dóceis; porém são as mulheres virgens que têm mais facilidade para toca-lós.

A Virgem e o unicórnio. Domenico Zampieri, séc. XVII. Palazzo Farnese, Roma. (Afresco)

Tema de notável recorrência nas artes medievais e renascentistas, o unicórnio, assim como todos os outros animais fantásticos, não possui um significado único.

Considerado um eqüino fabuloso benéfico, com um grande corno na cabeça, o unicórnio entra nos bestiários em associação à virgindade, já que o mito compreende que o único ser capaz de domar um unicórnio é uma donzela pura, ou qualquer pessoa que deixe sobressair o seu lado feminino com freqüência de tempo superior a 60%.

Presente em varias lendas medievais remete a uma criatura pura com poderes curativos.”

Esse trecho foi retirado daqui.

Como não se pode confiar em apenas uma opinião procurei outra fonte:

“Unicórnio são seres assexuados, homossexuais e fofinhos que gostam de galopar alegres e felizes sob um lindo e gay colorido arco-íris. Os unicórnios são muito admirados principalmente pelas meninas e pelas bixas loucas por causa de sua beleza e sua áurea feminina.

Acredita-se que os unicórnios descendam dos macacos, mas existem ramos que dizem que na verdade eles seriam cavalos casados com éguas vagabundas e ramos acreditam que unicórnios na verdade não existem.

Mas também acredita-se que os unicórnios são os cavalos de Satã. São seres que apresentam uma beleza exterior, mas são podres no interior. O chifre deles é o indício de que são criaturas vindas do inferno para fazer o mal na terra e ceifar sua alma para o DEMÔNIO!!!

O unicórnio é o ser que criou a raça homossexual por isso na idade média foi caçado e morto. Se transformando em churrasco que junto com sal grosso e salsa destruía o apêndice das bruxas, depois foram queimadas na fogueiras eles foram se reestabelecendo no mundo, no mundo só não, na Bahia.

O unicórnio é um animal que vive no Acre e no inferno lugar onde as crianças da Caverna do Dragão estão perdidas. Apesar do unicórnio parecer um ser puro e inocente ele é extremamente esperto e maligno.”

Esse trecho foi retirado daqui.

Percebe-se que há certas discordâncias em relação a o que seria realmente os unicórnios. Alguns os tratam como seres mágicos capazes de ajuda as pessoas, já outros dizem que unicórnios são apenas manifestações do lado feminino das pessoas,ou seja eles são gays. Talvez eles sejam como os gatos: aparentemente fofinho e bonitinhos por fora, mas na realidade são armas mortais prontos para dominar o mundo.

E agora? O que você acha?

Passaram-se poucos minutos do meio dia quando ele estacionou seu Mercury na garagem de casa. Na caixa ao seu lado alguns retratos e papeis que ele julgou importantes. Limparia o resto da sala na segunda feira. A garagem, sempre tão limpa e organizada como um hospital estava com uma camada de poeira sobre tudo, já que ele não havia ao menos entrado nela desde o incidente com a chave. No local onde aconteceu era possível ver gotas do seu sangue no chão de madeira. Inconscientemente toca os pontos abaixo do olho. Seu sangue

(fluindo pelo corte na cabeça... tingindo a água limpa do rio)

pequenos pontos vermelhos no chão cor de terra.

Olha para o outro extremo da grande garagem e vê a vaga vazia do Beetle amarelo de Alice. Nunca andaria naquela coisa. Quando saiam juntos usavam seu Mercury ou a velha RS2 Avant azul guardada junto do Beetle. Aquele monte de aço amarelo não lembrava em nada seu velho Bug preto fosco, companheiro de tantas saideiras durante a faculdade. Talvez, quando estivesse passando pela crise da meia idade e estivesse procurando incansavelmente a juventude perdida, comprasse um Beetle igual da esposa. Mas agora não.

Atravessa de maneira automática o gramado e toda a casa e vai direto ao bar do lado da cozinha. Acende um cigarro enquanto prepara um coquetel com saquê que vira na internet. Começaria a aproveitar essas férias forçadas de porre.

Estar sozinho na grande cozinha o deixa um pouco deprimido. O silencio pesado do local o faz pensar como se ninguém nunca mais fosse entrar ou sair por aquelas portas. É tirado de seu devaneio pela campainha ritmada do telefone. É Alice.

― Oi, Tony. O que você está fazendo em casa a essa hora?

― Você tinha razão. Fui chutado. E agora estou tomando um porre enquanto tento aproveitar minha nova vida de rico esnobe.

― Bom pra você. Enquanto isso, a plebeia aqui tem que trabalhar para garantir o pão de amanhã.

― Sabe – imita a voz de um cafetão de um seriado de TV – em troca de alguns favores sexuais eu poderia melhorar a sua situação financeira.

― Vou pensar – ouve risadas do outro lado da linha – Só liguei para avisar que vou ficar até mais tarde na galeria. Talvez chegue depois das onze.

Depois de mais alguns minutos de conversa trivial se despedem e a casa mergulha novamente no mais completo silêncio, só quebrado pelo barulho das bebidas sendo misturadas e pela tosse seca cada vez mais frequente. De certa forma está calmo, mas pode sentir a loucura crescente se esgueirando e preenchendo cada canto da casa enquanto o saquê desce queimando sua garganta e deixa um gosto amargo em sua boca.

―Tem certeza que está tudo bem você ir para a firma assim? Não quer esperar mais alguns dias?

Tinha a sua frente um prato raso com bacon e ovos. Sentada a sua frente, sua mulher continuava a falar como se preocupava com ele e continuava a perguntar se estava bem. Ele simplesmente não ouvia o que sua mulher dizia. Em sua boca um cigarro pela metade. Antes disso nunca havia fumado durante as refeições. Antes disso só fumava quando não tinha nada para fazer e depois de transar. Sempre achou cômica a imagem dele fumando enquanto sua mulher limpava o esperma das coxas. Como nos filmes antigos.

Mas agora fumava porque precisava.

Se houvesse algum espelho na sala de jantar poderia ver o mesmo que os olhos azuis de Alice fitavam. Um rosto vazio com a barba por fazer, um sorriso já amarelado pelo uso constante dos cigarros e um estupido corte abaixo do olho direito. Estava debaixo do carro quando a chave que estava usando para soltar um parafuso espanado escapou e acabou rasgando a carne de seu rosto. Não foi um corte grande, mas achou melhor ir ao hospital por precaução. Levou dois pontos. Provavelmente não ficaria cicatriz.

(teve sorte de alguma pedra não acertar seu olho, poderia ficar cego. Ao invés disso, ficou com um pequeno sorriso abaixo do olho esquerdo)

De tudo isso restou apenas uma foto tirada por Alice na saída do hospital. Ele se sentiu um idiota ao tirar a foto e se sente um idiota toda vez que a vê na mesa de centro da sala de estar. Parecia a foto de um soldado que havia curado suas feridas e pronto para continuar matando pelo seu país.

Nada disso importava. Aparentemente o maníaco o estava seguindo. Quando chegou do hospital recebeu outro e-mail: “Agora que somos iguais novamente você teria coragem de fazer aquilo de novo?” não importava que configuração ele usasse, esses estranhos e-mails nunca eram mandados para a lixeira.

“Esse maníaco não é só um bostinha. Ele sabe o que tá fazendo. Ele deve ter feito uma longa pesquisa para saber que meu irmão tinha uma cicatriz abaixo do olho esquerdo. Como ele podia saber disso?”

―... você mesmo fala que o conselho está procurando um motivo para te desligar da empresa.

Isso é verdade. Nos dias de hoje seria impossível manter uma firma dessas proporções sem capital externo. Logico que ele era o maior acionista, mas a politica da firma permitia que ele fosse desligado das funções na diretoria. Isso não afetaria suas ações, mas sentia que devia manter o único Cougar ativo na empresa. Devia isso a seu pai.

― Eu sei. Por isso mesmo eu tenho que ir. Isso é uma coisa estupida que eu chamo de orgulho masculino.

― Agora você parece o homem com quem me casei. Ah, já ia me esquecendo – entrega uma notificação em suas mãos – parece que a fazenda dos seus pais foi liberada do período de quarentena.

Ficou realmente surpreso. Seu pai, homem pratico e racional, havia recusado vender a fazenda para o governo após o acidente na usina nuclear da região. Isso foi há 29 anos. Dificilmente conseguiria vender a fazenda por um bom preço. Pelo jeito aquelas terras radioativas continuariam na família Cougar.

Sua mulher tinha razão. Durante uma reunião que durou 5 minutos havia sido destituído da sua função no conselho administrativo. Sabia que quando eles tivessem problemas voltariam como o rabo entre as pernas pedindo ajuda. Iria deixar as coisas como estavam no momento. Enquanto esvaziava sua mesa jogou fora a bituca do quinto ou sexto cigarro do dia.

“Se tiver um pouco de sorte talvez eu morra de câncer antes de ficar louco. Vou ser enterrado com um terno branco com os braços

(e pernas dobradas em ângulos estranhos)

cruzados e os dedos do meio levantados.”

Começa a rir, mas a tosse áspera logo vem lembrar que o câncer está realmente perto. Mas a loucura está ao seu lado.

Alice dormia no quarto. Sentado na poltrona surrada de couro tem a sua frente um copo de uísque e gelo e um cinzeiro já cheio. Do mesmo modo que Alice tinha um estúdio no jardim ele havia transformado o porão da casa em uma sala de estar à prova de som. Assim ele não incomodaria ninguém nem seria incomodado. Mas agora aquela sala, antes tomada por musicas de rock e as risadas bêbadas de jogadores de pôquer, estava tomada pelo silêncio. A grande televisão presa à parede era como uma mancha negra no meio do branco do quarto. Percebe que seus cigarros acabaram. Sua mente finalmente está lucida e ele consegue pensar nos fatídicos acontecimentos dessa terça-feira.

“Só pode ser algum tipo de maníaco. Já encontrei esses tipos antes. Não sei como ele conseguiu meus e-mails. Não consegui rastrear o IP do cretino. Não faço a menor ideia de como esse merda consegui minhas senhas.”

Lembra-se da vez que teve que desembolsar alguns milhares de dólares para fazer alguns hackers “esquecerem” algumas fotos antigas da sua mulher.

“Não é tão absurdo pensar que ele está blefando. Aquele dia foi noticiado por todos os jornais. Li uma dessas manchetes quando estava no hospital: ‘Filho de importante empresário da região morre durante brincadeira no fim da tarde’. Não tenho certeza, mas deve ter saído alguma notícia que seu irmão gêmeo passou por tratamento psiquiátrico. Qualquer imbecil poderia juntar os fatos e pronto: ameaça instantânea. Ele só estava blefando. Ninguém sabe o que realmente aconteceu.”

Era uma brincadeira. HAHA. Todo mundo iria rir. Seu irmão havia batido nele por andar mentindo. Que tipo de homem ele seria se não se vingasse? HAHA. Todo mundo vai rir. Ele substitui a corda do balanço. HAHAHA. Seu irmão iria cair de bunda no chão ao tentar subir no velho pneu faixa branca. HAHA. Mas a corda presa no velho carvalho não arrebenta e ele começa a se balançar. Para frente, para trás. Ele tenta segurar o riso. A corda arrebenta e seu irmão faz uma parábola em direção ao barranco da beira do rio. Era uma brincadeira. O grito e o som de osso quebrando. HAHA. Todo mundo riu. O sangue fluindo pelo corte na cabeça. HAHA...

O gosto salgado em sua boca o faz perceber que está chorando. O silêncio foi quebrado. Sua risada ecoa nas paredes e chega aos seus ouvidos como um som grave e doentio. A casa continua em silêncio. A loucura está presa entre as pareces brancas. A loucura quer sair.

Era seu quinto cigarro do dia. Nunca teve vontade desenfreada em fumar. Uma cartela de cigarro chegava há durar um mês em seu bolso sem nem ao menos ser aberta. Mas agora, sentado no banco do motorista de seu Mercury sentia um prazer imensurável ao tragar aquela fumaça toxica. Como se a fumaça invadindo seus pulmões expulsasse o

(sangue e água dos pulmões)

que havia visto.

Joga a bituca do cigarro pela janela. Agora está mais calmo. Começa a manobrar o carro para sair do estacionamento já deserto. Rodridez, o porteiro, já foi embora por isso tem que abrir o portão. Chegaria em casa em 15 minutos. 10 se não se preocupasse com semáforos e limites de velocidade.

Acende outro cigarro enquanto os largos pneus traseiros deixam faixas negras no chão. As ruas daquele bairro comercial eram desertas há essa hora, poderia testar do que o carro era capaz. Dobra a esquerda no fim da rua e toma um atalho. Chegaria em casa mais cedo. Alice estaria lá para reconforta-lo. A fumaça do cigarro bate em seus olhos. “Droga, sabia que não devia fumar dirigindo.” No segundo em que seus olhos estão fechados ele sente a batida. O inconfundível som de metais se chocando e de algo caindo no cascalho da viela. Para imediatamente e vê uma bicicleta azul caída no chão com seu quadro deformado e os aros apontando para o céu. Sai do carro ofegante e vai até os destroços. Não vê sangue nem um corpo. “Deve ser uma bicicleta abandonada.”

Por um momento perdera o controle. Não podia deixar que um simples e-mail o atormentasse. De volta ao carro percebe que não adianta fugir das lembranças que aquela maldita mensagem trazia. Devia confronta-las.

Da a partida e sai jogando cascalhos nos destroços da bicicleta. Ele não percebe que ela é exatamente igual a aquela na qual costumava andar quando pequeno. Se tivesse a observado mais atentamente poderia ver as iniciais AC e FC gravadas no guidão.

Uma história meio antiga.

Para frente. Para trás. Balançando sem ritmo como o pendulo de um relógio que ninguém se preocupa em arrumar. Os rangidos da cadeira chegam aos seus ouvidos como sons vindos de muito longe. Ele se vira e vê um reflexo refletido na televisão. De quem será aquele rosto refletido no vidro negro da televisão? Ele olha os posters nas paredes e as miniaturas na prateleira, mas elas não lhe respondem a pergunta que há muito tempo foi esquecida, mas que retorna nos tempos de solidão e angustia para atormentar sua mente.

Quem sou eu?

Tudo nesse quarto mostra apenas uma existência vazia. A sociedade lhe diz como viver. Dia após dia. Hora após hora. Todo seu ímpeto foi tomado pelos sorrisos idiotas que estão gravados nas fotos como momentos felizes. Essas fotos mostram a mesma coisa: mentiras. Mentiras para os outros. Mentiras para si mesmo. Ele sabia a resposta, mas a sociedade o tornou um ser perfeito com uma mascara sobre seu rosto deformado e torto com o qual nasceu.

Quem sou eu?

Seres perfeitos não precisam de perguntas. As respostas são dadas pelo bem coletivo. Seres perfeitos não almejam nada, a vida se torna apenas algo pelo qual devemos passar até a nossa morte.

Ele não quer isso. Pela primeira vez em anos ele sente dor. Na sua mão a mascará, formosamente criada para ele, balança fracamente e cai no chão se quebrando. Ele pode ver seu rosto finalmente, o vidro negro de TV agora reflete aquilo que tanto lutaram para esconder ao invés de um rosto vazio.

Mas isso não responde a sua pergunta. O que está por trás daquele ser imperfeito que por tanto tempo foi toscamente disfarçado em algo que ele não queria. Quem é ele? Isso não muda o fato de sua existência ser vazia. Seus olhos são inexpressivos, frios como a mascara que os escondia. Ele aprendeu como ser perfeito.

Ele esqueceu como ser ele mesmo.

As notas na escola. As fotos com amigos e familiares. Todos os feitos. Todas as conquistas. Em tudo a mascara está presente, sorrindo, chorando, dando o seu melhor. Nada disso foi feito por ele. Quando sua vontade foi substituída por essa mascara? Ontem? Há 10 anos? Para ele não há nada que comprove que ele está ou esteve realmente vivo. Talvez sem a mascara tudo que reste seja uma morte simples e fria. Talvez ele não seja nada sem aquilo que foi dado para ele.

Quem sou eu?

Ele ainda não sabe a resposta. Muitas outras perguntas ainda o atormentam. Ele pensa que seria mais fácil colocar a mascara novamente e continuar vivendo naquele mundo, seja ele real ou não. Mas isso não é possível. Os cacos da mascara jazem no chão do seu quarto, junto com algumas lágrimas e gotas de sangue derramadas sem motivo algum.

Como em seu quarto, nas ruas ele continua balançando fora do ritmo. Fora dos padrões impostos. Fora do balanço das mascaras frias ao seu redor. Ele é como o relógio que ninguém se preocupa em concertar. Suas batidas destoam do ritmo. Destoam do mundo perfeito do qual ele escapou. Suas batidas são como um protesto ao som ritmado e angustiante da rotina. Talvez ele fosse mais feliz sem ter que se preocupar com o que fazer. Talvez a vida fosse mais simples. Talvez fosse mais simples ser manipulado e tragado pela rotina tão bela e perfeita que haviam feito par ele. Não há como saber. Os cacos da mascara em um canto do quarto mostram a sua escolha.

Todos os dias, antes de sair, ele se olha no espelho. Afinal agora há alguma coisa para olhar não apenas uma mascara imutável. Ele sorri ao perceber que não gosta do que vê. Talvez um dia comece a gostar. Talvez um dia se acostume com seu real rosto.

Ou talvez apenas desista e continua a viver uma vida tão vazia quanto a vida que a mascara lhe impunha.

Afinal agora ele tem escolhas. Essas escolhas próprias o afastam cada vez mais do mundo calmo e sereno das mascaras. Ele não sabe até onde suas escolhas o levaram. Talvez o levem até a resposta.

Quem sou eu?

Dando continuidade a minha epopeia de ser um escritor de fim de semana e depois de derrotar minha protelação consegui terminar Spam Emocional. Ficou bem maior do que eu esperava por isso não vou posta-lá de uma vez aqui. Não tenho certeza se fiquei realmente satisfeito com o final dela, mas tá valendo.

Ladies and gentlemen, com vocês a estreia de Spam Emocional.

Spam emocional

“Só pode ser algum tipo de spam.”

Enquanto o diretor do setor de finanças desmembrava todos os gastos e ganhos dos últimos meses o sr. Cougar não conseguia se concentrar. Sabia todas aquelas informações de cor, mas seu velho pai sempre lhe dizia que a atenção era a parte mais importante para gerenciar qualquer tipo de negocio. Por isso sempre deixava seus problemas pessoais em casa, mas nessa terça feira chuvosa algo havia chamado sua atenção.

Anthony Cougar, 43 anos. Típico homem de negócios. Graças aos seus esforços a firma fundada por seu pai se tornou uma importante firma de consultoria de engenharia. Casado há doze anos não teve filhos devido a um problema de saúde de sua mulher. O fato de não terem filhos permitiam aos dois ter um estilo de vida mais livre, sem as preocupações que uma criança pequena daria.

Como de costume, ainda na mesa do café, ele gastava meia hora para verificar seus e-mails. E-mails de trabalho, os pessoais ele verificava no fim do expediente ou quando chegava em casa. Normalmente havia ao menos uma dezena de e-mails de fornecedores e funcionários, mas nessa terça feira havia apenas um. Estranhamente o remetente era seu e-mail pessoal. Ele não se lembrava de ter mandado um e-mail para si mesmo. Devia ser uma brincadeira de algum familiar, mas nem sua mulher sabia seu e-mail do trabalho. Devia ser algum spam. Mas se fosse, porque não foi encaminhado para a lixeira junto com anúncios de casas na praia e remédios que aumentariam eu pênis? Percebeu que estava atrasado, mas antes de deletar o estranho e-mail ele repara no titulo dele “Tá na hora de brincar, pequena cópia perfeita.” Por um breve momento ele se lembra. O balanço. O rio. Uma ponta da corda presa no galho do carvalho. O corpo no rio. Seus braços e pernas dobrados em ângulos estranhos. O sangue tingindo a agua limpa do rio. Aquele sangue, os braços e pernas são iguais aos seus. É o seu sangue que tinge o rio. São os seus olhos que fitam o verdadeiro culpado.

­―Você está bem, Tony?

O chamado de sua mulher o trás de volta a realidade. A visão daquele longo cabelo loiro o faz esquecer o que estava pensando. O e-mail foi deletado.

Passa a mão sobre a testa e percebe que está suando apesar de estar fazendo frio. Resolve tomar outro banho antes de ir para o escritório. Queria que aquelas memorias fossem deletadas. Mas elas sempre estariam ali, não importando quantos banhos tomasse ou quantos terapeutas visitasse. Haveria sempre o sangue, os fiapos da corda balançando ao vento. Haveria sempre o outro eu.

―Algo a acrescentar, sr. Cougar?

A reunião acabou. Agora todos o fitam esperando mais algumas palavras para darem a reunião por encerrada.

―Se vocês realmente ouviram o que o sr. Johnson disse não há mais nada a dizer. Se levantou, observou a surpresa no rosto de todos e foi embora.

Quando deu por si já estava em seu escritório. No canto norte do ultimo andar da sede da empresa, seu escritório, assim como o prédio de três andares, era simples, mas muito aconchegante. Ladeado por grandes janelas, o prédio era bem iluminado ao contrario

(da cova onde meu outro eu está)

do barracão onde seu pai havia começado a firma há quase 40 anos. Terminada a reunião não teria mais nada de importante para fazer pelo resto do dia, a não ser uma reunião com um fornecedor perto do fim do expediente. Arrastou sua cadeira para perto da janela, ascendeu um cigarro e ficou admirando a paisagem, hoje tomada por prédios, mas, quando inaugurou a nova sede há 10 anos aquele bairro era totalmente vazio. Olha para baixo e vê seu Mercury Cougar preto estacionado. Poderia pagar qualquer um para ter o carro pronto imediatamente, mas o estava montando sozinho em suas folgas. Lembrava-se do pai se vangloriando por ter ganhado um processo na justiça e a Ford seria obrigada a pagar para usar o sobrenome da família. É verdade que foi pouco dinheiro, mas ele sempre ria quando o pai comentava na mesa de jantar ou durante uma reunião de família: “Ei, já falei pra vocês da vez que ganhei um processo em cima do grande Henry Ford II?”

A reunião com o fornecedor foi rápida e, como havia alguns minutos livres, resolveu conferir seus e-mails pessoais no trabalho. Aquilo era só um spam. Quando vê o e-mail no topo da lista ele não acredita no que vê. Se ouvisse falar de algum caso parecido, iria achar que era mentira. Mas as letras gravadas no monitor não deixavam duvidas. O remetente era seu e-mail do trabalho. O titulo estava gravado em seus olhos “É a segunda vez que você me exclui da sua vida. Não faça mais isso, tá?”

O sangue. O pneu descendo a correnteza. O grito e o som de osso quebrando.

O prédio já está vazio. Ninguém pode ouvir seus gritos.

Alguns momentos filosóficos que eu tenho de vez em quando.

“A loucura é semeada por aqueles que se consideram sãos.”

Podem esperam por mais.

Aqui estamos novamente. Vamos, me mostre aquele sorriso idiota de novo! Sei que você se delicia com o meu desprezo...
Vamos, me mostre o que você esconde! Me conte mais sobre sua vida deplorável. Em troca, te mostro tudo o que você não quer ver. A verdade, a mentira, o ódio, o rancor. Vamos, me mostre. Tudo. Até chegar em seus ossos, no seu sangue podre, nas suas feridas.
Vamos, me mostre! Em troca, te mostro o que está na frente do espelho que você tanto admira.

Tive essa ideia hoje quando estava esperando ser atendido pelo cardiologista. Não sei se isso acaba aqui, se tiver mais alguma ideia para dar continuação faço um update.

Dando continuidade a minha epopeia de me tornar escritor de fim de semana ai vai mais uma história curta que terminei esses dias. Ela fico meio deprê, mas tá valendo.

“Desculpe, sua busca não gerou nenhum resultado. Você pode melhorar sua busca alterando seus parâmetros e ...”

O que ele estava fazendo? Parado na penumbra a única luz no quarto vinha do monitor onde aquelas palavras o fitavam como testemunhas do seu fracasso.

“...sua busca não gerou resultados...”

O que ele está procurando? Por que ele não pode simplesmente aceitar as antigas respostas e continuar como se isso não fosse nada?

Ninguém disse o quão triste é fazer uma pesquisa por seu próprio nome. Mas ele precisava saber. Precisava de algo que dissesse o que ele é. Algo que provasse que ele está vivo por ele mesmo. Ele sempre seguiu as regras impostas por todos aqueles que queriam seu melhor, que como falcões dilaceravam sua carne e alma deixando os restos podres pelo chão e levando embora seu melhor.

Não mais. Até agora sua existência havia sido manipulada de varias formas. Isso o tornava apenas um cachorro que havia aprendido alguns truques. As palavras negras na tela esfregavam a verdade na sua cara. “... não gerou resultados...” aquelas palavras simples e escritas de maneira fria e automática na tela refletiam em seus olhos. Penetravam em sua aula.

Estava cansado de elogios frios. Estava cansado de ser tratado como o cachorro que recebe um doce por obedecer seu dono. “Você é um bom aluno”. “Você é um bom filho”. Ele realmente merece essas palavras? Ele realmente da algum valor para elas? Elas realmente valem alguma coisa? Essas palavras sempre chegaram aos seus ouvidos como sons vindos de muito longe, frios e sem qualquer valor. Agora no silencio do seu quarto aquelas palavras no monitor o desafiam.

“... não gerou nenhum resultado...”

Ele vai mudar. Ele sabe que, do mesmo modo que o cachorro que não mais obedece seus donos é jogado fora como lixo, ele também será jogado fora por todos. As palavras frias serão para outros agora. Ele não precisa mais delas.

Agora ele pode mudar aquelas palavras. As palavras na tela talvez fiquem lá para sempre, não importando o que ele faça. Talvez ninguém fale com ele de modo sincero. Mas agora ele está vivo e pode fazer as coisas por ele mesmo.

É isso que importa.

O que é medo? Essa é uma pergunta que muitos já devem ter feitos para si mesmos. Por que algo banal e que seus amigos acham graça pode gerar um desconforto quase insuportável em você? A simples definição de medo pode sem encontrada no dicionário, mas nem tudo que molda a mente humana pode ser expresso por palavras.  Cada um sabe o que realmente é medo, mesmo que não tenha se dado conta disso ainda.

Antes de continuar, um pouco de fatos: hoje em dia, muitos tentam reprimir e lutar contra seus medos, para mostrarem um padrão de coragem que os outros esperam dele. Senão fosse o medo, provavelmente a raça humana não teria resistido muito tempo. è o medo que impede que a gente faça merda. Era o medo de ser atacado por animais grandes que faziam nosso antepassados andarem em grupos para se defenderem. Atualmente demos outro nome ao medo: precaução. Sendo assim podemos dizer que, nos dias atuais, sentimos medo quando uma situação inesperada se mostra fora de controle e nossos cuidados se mostram ineficazes, ou seja, não conseguimos compara-lá a nada que nos tenha ocorrido anteriormente para termos alguma ideia de como agirmos. Nessas situações, algumas pessoas sofrem com o “reset no cérebro”: o cérebro simplesmente para de tentar entender a situação e continua a funcionar normalmente, desempenhando as tarefas normais do dia-a-dia: uma sobrevivente do World Trade Center insistia em trocar de roupa antes de sair do prédio, mesmo um avião tendo acabado de atingir a torre. Outro exemplo ocorreu durante um incêndio em uma estação de metrô em Londres, onde alguns passageiros continuavam a esperam seus trens como se nada estivesse acontecendo. Antes que alguém fale, em ambos os casos o “reset” aconteceu com pessoas sem qualquer tipo de problema mental, isso mostra que, por mais que saibamos na teoria o que devemos fazer no caso de um incêndio, por exemplo, o nosso real comportamento em tal situação só poderá ser testado na hora. Pode parecer estranho mas em casos de pessoas perdidas na floresta, crianças pequenas podem ter mais chances de sobreviver, pois elas não entendem realmente que estão em perigo, ao passo que crianças maiores entendem que estão em perigo, mas não tem a mentalidade para decidir o que fazer e se desesperam.

Isso é o que eu chamo de terror real, ou seja, o medo de situações que, por mais que nos preparemos, pode acontecer, como um assalto a mão armada, um incêndio, o elevador travar, etc..

Agora vou falar do assunto principal desse post: o medo psicológico.

Penso no medo psicológico, como aquilo que a gente sente pelo inexplicável. Do mesmo modo que alguns tem medo de algum tipo de punição divina pelos seus atos, em outras épocas tivemos medo das “bruxas” por simplesmente não entendermos o que elas realmente faziam. Quando somos crianças o medo psicológico é muito grande, se fundindo muitas vezes com o medo real. Conforme crescemos, o medo psicológico vai diminuindo enquanto o medo real vai se tornando meio que “padrão” para todos.

Alguns medos psicológicos somem, enquanto outros são alimentados durante anos, sem ao menos sabermos o motivo. Lembro que quando era pequeno, além dos medos normais de uma criança (escuro, ficar sozinho, se perder, etc.) tinha medo das campanhas da Unicef que passavam na Cultura. Não sei bem se isso era medo, mas lembro que sempre me sentia meio estranho quando via uma dessas campanhas.

Nunca mais vi uma dessas campanhas e até hoje devo dizer que ainda não vi nada que tenha realmente me deixado com medo. Sempre gostei de histórias de terror mais elaboradas e a internet está cheia delas. Tirando uma paranoia temporária e uma certa dificuldade de dormir no dia, até hoje não encontrei nada que realmente afete meu senso e bote meu xeque meus medos e precauções.

E vocês? Do que têm medo?

Se existe alguém que esteja acompanhando o blog, deve saber que faz um bom tempo que nada é postado nele. Isso se deve a preguiça desse que vos escreve e também por que estive meio ocupado nos últimos tempos. Vou postar uma história que escrevi. Ela não é de terror (ainda não consegui terminar nenhuma história de terror que comecei) mas acho que ficou legal. Acho que ficou meio melancólica, mas espero que gostem.

Aqui, no meio da cidade, entre prédios e postes, há um velho entregando panfletos. Suas mãos deformadas pelo tempo seguram esses papeis sem a firmeza com que antes seguravam um rifle durante a guerra. Ao invés de uma farda, hoje ele usa um cartaz com os dizeres “Compro e vendo ouro” por cima das roupas já surradas. Ninguém parece prestar atenção nesse velho soldado, afinal nossos velhos heróis são sempre esquecidos perante novos problemas. Seus olhos azuis contrastam com sua pele e cabelos brancos. Esses olhos já viram e choraram por amigos e companheiros abatidos covardemente em batalha. Mas suas lágrimas não são compartilhadas com ninguém, afinal ninguém se importa. Conforme a idade ia tirando tudo dele, ele também deixou de se importar. No mesmo lugar, todos os dias, ele usa o pouco de energia que resta para entregar panfletos, que são ignorados e atirados ao vento, do mesmo modo que sua juventude foi tragada pela pólvora e pelo cheiro de sangue. As pessoas simplesmente passam por ele, como se não existisse. Talvez, ele não exista mais mas não tenha se dado conta disso. A rotina talvez impeça que seu corpo definhe do mesmo modo que todos que estavam a sua volta. Ele já não tem mais nada que se importe. Ele tem apenas seus panfletos. Se alguém perguntar o que está escrito neles, ele não saberá dizer. Do mesmo modo que lutou se saber os reais motivos por trás daquilo, ele entrega seus panfletos sem saber ao mesmo sobre o que são. Hoje, ele parece estar diferente, um pouco tremulo. Ele pode sentir o sangue se esvaindo. Seu coração já cansando das batalhas diárias dá suas ultimas batidas. Ele cai recostado a um poste, os panfletos caem no chão e contrastam com seus cabelos brancos e seu cartaz “Compro e vendo ouro”. As pessoas continuam não se importando com o corpo estirado no chão, a rotina já tirou todo e qualquer sentimento delas. As pessoas veem a morte como algo distante e não se importam com isso. Ele também não devia se importar. Depois de tudo que ele passou, deve ter pensando que poderia ser divertido poder escapar dessa prisão particular que cada um de nós tem ao nosso redor. Prisão que construímos para nos proteger do medo, do caos, da tristeza e do rancor. Para nos proteger da vida e dos outros. Para nos proteger de nós mesmos.

Depois de tempos, ainda vemos a influência da campanha, parece ser algo bom!

Então pessoal, estou aqui hoje postando sobre… sobre alguns momentos da minha vida de Nerd – Geek – Hacker e etc.

Bom, vamos começar pelo começo. Nós éramos muito companheiros, de vez em quando rolava uma briga sobre algo de eu ter ultrapassado o limite de download, mas nada que não se resolvesse em 24 horas, as vezes eu dava um jeito de driblar a contagem com scripts, plug-ins e alguns softwares, mesmo quando eu não estava logado, ele me dava até 300 Kbps de velocidade para efetuar meus downloads com sucesso, sempre tivemos vários arquivos em comum e ele sempre criava uma link curto para que você não se perdesse meio a tanto conteúdo, mas mesmo assim ele teve que ir, talvez por que depois do dia 18 (Dia da SOPA – Dia em que alguns sites e servidores foram desligado para protestar contra a pirataria) perceberam que seus discos rígidos estavam cheios de arquivos piratas que foram enviados pelos próprios usuários (não necessariamente todos)… Mesmo assim foi bom em quanto durou, se algum dia você renascer das cinzas, estou a esperar.

Megaupload Logo

“Todo download pode sofrer falhas durante o seu processo, exceto, é claro, quando atingir 90% de sua totalidade.”

Antes de qualquer coisa deve-se observar que na Alemanha dos anos 60 esses terno já existia sobre a forma de “tune up” que consistia ~em fazer modificações mecânicas e visuais para conseguir um melhor desempenho dos carros e não apenas pra deixa-lós mais bonitos.

Independentemente da origem, o tunning teve uma vida obscura até a saga “Velozes e Furiosos” ser lançada. Já cheguei a fazer um post sobre o ultimo filme da saga. Como mudanças mecânicas seriam menos perceptíveis pelo publico leigo, os filmes sempre destacaram as modificações visuais. Isso trazia efeitos colaterais: como você espera conseguir despistar a polícia em um carro verde-limão cheio de grafismos?!! Não dá.

Dodge Challenger SMS 570

Depois do filme todo mundo ficou com o bichinho do tunning atrás da orelha. Todo mundo queria que seu carro tivesse o visú do Eclipse ou do Skyline do Brain. Mesmo que o carro do infeliz fosse um Fusca, com os adesivos e pintura iguais ao filme o cara se sentia o mais foda do mundo.

Sinto desaponta-lós, mas quem faz isso não é o cara mais foda do mundo. É um idiota.

Antes que comecem as ameaças de morte devo dizer que também idolatrei esse tipo de modificação um dia.

O Velozes e Furiosos teve seu lado bom e seu lado ruim: o lado bom foi mostrar o tunning pro mundo, o lado ruim foi como ele mostrou o tunning pro mundo. Antes do filme já haviam revistas e simpatizantes do movimento, com a chegada do filme houve o “bum” do tunning, mas durante um bom tempo o tunning no mundo real ficou preso ao tunning das telas. As revistas de olho no novo mercado passaram a fazer cada vez mais reportagens de carros com estilo Extreme, como ficou conhecido hoje em dia as modificações visuais mais radicais (nem sempre acompanhadas de modificações mecânicas radicais) os famosos carros de exposição. Os recém descobridores do tunning davam mais valor a um Vectra com visual carregado e duvidoso baseado no filme do que a um BMW gringo com visual discreto mas com modificações extensas e funcionais. Eram raras as reportagens com carros nacionais ou gringos que seguissem os ideias originais do tunning.

carro-tuning-iluminado

Velozes e Furiosos atraiu para o lado negro do tunning aqueles que já tinham carro. Menores de idade, como esse que vos fala na época, foram atraídos pela serie Need for Speed. O foco do Need sempre foi corridas ilegais em estradas publicas, mas foi no Need Underground que a ilegalidade se juntou ao tunning e virou fere nas casas e lan houses desse país.

Need-for-Speed-Underground-2-carros

Como disse acima, deixei de me interessar por modificações visuais mais extremas (a menos, é claro, que sejam de alguma forma funcionais). Não tenho muita certeza de quando isso aconteceu, acho que foi quando estava admirando um Hyundai Tiberon que tinha a pontuação máxima em estilo no Need Underground 2 e percebi que estava uma bosta, que ele estava muito mais bonito quando tinha apenas 5 estrelas.

Acho que muitos jovens perceberam isso e isso impediu de termos as ruas invadidas por uma onda maciça de Corsas e Gols “xunnados” ao extremo. para quem acha que estou exagerando entre no Bizarrices Automotivas e veja que a situação não é das melhores.

Hoje em dia dou maior valor à carros que seguem os fundamentos do tunning. Se o carro fica com a frente leve em altas velocidades coloque spoilers e calibre a suspensão e pronto, mas não coloque um spoiler de 1 metro de comprimento e suspensão mata-formiga (nesse caso você vai desejar a morte do infeliz que criou as lombadas kkkk).

Nem sempre o que parece ficar perfeito em um Lancer Evo ou num S2000 vai ficar legal no seu Gol. Se você quer modificar o visual do seu carro uma boa ideia pode ser se basear em alguma versão esportiva de fabrica. Ex: os primeiros Lancers III que vieram para o Brasil podem ficar com o visual do Lancer Evo III, um Corcel pode ficar com o visual da versão GT. Se você não quer seguir um estilo já feito pela fabrica e você fez modificações mecânicas extensas parta para um visual discreto, criando assim um sleeper, carro que entrega muito mais que o visual supõe.

Antes de pensar em mexer no seu carro você deve pensar em como vc vai usar o carro. Se vc só ta afim de desfilar de makinaum a 20 km/h ouvindo funk e fazendo questão que até os surdos que estão na rua escutem a merda que vc ta ouvindo lota o porta-malas de som e coloca umas rodas 20” no seu Agile e já era. Já vc que vai usar o carro com frequência mas também quer um carro que possa ser rápido quando necessário primeiro analise o comportamento do carro original: velocidade em curvas, curso da suspensão, numero de voltas da direção, frenagem, acelerações, etc. e procure mudar inicialmente os aspectos que não lhe agradam no carro. Com as modificações iniciais, outras modificações serão necessárias mas lembre-se de ser cauteloso e manter o foco na proposta inicial do carro: a ideia de ter na garagem um Gol ou Palio preparado com todos os pôneis malditos possíveis e completamente aliviado é maravilhosa até vc ter que enfrentar um maldito congestionamento em alguma marginal.

E pra finalizar uma musica que traduz tudo que acabei de falar:

A criatividade humana com altos índices de cretinice