Era seu quinto cigarro do dia. Nunca teve vontade desenfreada em fumar. Uma cartela de cigarro chegava há durar um mês em seu bolso sem nem ao menos ser aberta. Mas agora, sentado no banco do motorista de seu Mercury sentia um prazer imensurável ao tragar aquela fumaça toxica. Como se a fumaça invadindo seus pulmões expulsasse o

(sangue e água dos pulmões)

que havia visto.

Joga a bituca do cigarro pela janela. Agora está mais calmo. Começa a manobrar o carro para sair do estacionamento já deserto. Rodridez, o porteiro, já foi embora por isso tem que abrir o portão. Chegaria em casa em 15 minutos. 10 se não se preocupasse com semáforos e limites de velocidade.

Acende outro cigarro enquanto os largos pneus traseiros deixam faixas negras no chão. As ruas daquele bairro comercial eram desertas há essa hora, poderia testar do que o carro era capaz. Dobra a esquerda no fim da rua e toma um atalho. Chegaria em casa mais cedo. Alice estaria lá para reconforta-lo. A fumaça do cigarro bate em seus olhos. “Droga, sabia que não devia fumar dirigindo.” No segundo em que seus olhos estão fechados ele sente a batida. O inconfundível som de metais se chocando e de algo caindo no cascalho da viela. Para imediatamente e vê uma bicicleta azul caída no chão com seu quadro deformado e os aros apontando para o céu. Sai do carro ofegante e vai até os destroços. Não vê sangue nem um corpo. “Deve ser uma bicicleta abandonada.”

Por um momento perdera o controle. Não podia deixar que um simples e-mail o atormentasse. De volta ao carro percebe que não adianta fugir das lembranças que aquela maldita mensagem trazia. Devia confronta-las.

Da a partida e sai jogando cascalhos nos destroços da bicicleta. Ele não percebe que ela é exatamente igual a aquela na qual costumava andar quando pequeno. Se tivesse a observado mais atentamente poderia ver as iniciais AC e FC gravadas no guidão.

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