Pequena creepypasta de um desenho que azucrinava minha infância. Quem adivinhar o desenho ganha um pirulito.

Ele pega os lapis de cor e gizes de cera sem muita firmeza. O atrito dos lápis com o papel é ouvido no grande corredor frio e branco. Figuras disformes começam a se formar e, para ele, representam uma vida normal para uma criança de quatro anos. Passeios com os pais, brincadeiras com os amigos, visitar os avos. Nada disso aconteceu com ele. Dentro daquele quarto ele só conhece a solidão, o desprezo e a pena estampados nos rostos das enfermeiras.

Não há nada nesse quarto que prove que uma criança ficou ali durante os últimos três anos. Aquela criança com olhar vago debaixo das cobertas não recebe visitas a muito tempo. Os brinquedos quebraram e foram jogados fora. As flores murcharam e foram jogadas fora. Só restaram alguns lápis e gizes de cera, cada vez mais curtos, e algumas folhas já amareladas.

“Será que fiz alguma coisa ruim e por isso papai e mamãe não vem me visitar mais?” pensa enquanto desenha um grande sol. “Os médicos sempre me colocam naquelas maquinas grandes e fazem um monte de coisas comigo. Deve ser algum castigo”

Ele é muito pequeno para entender as fofocas que as enfermeiras fazem pelos corredores. Convivendo com a morte e solidão todos os dias, o esporte preferido das enfermeiras, como boas sádicas que são, é discutir entre si as desgraças dos enfermos. Entre os corredores é famosa a história que os pais daquele garoto do quarto 205 são irmãos por parte de pai. Aparentemente, o cretino, após voltar da guerra, largou sua mulher e começou outra família. Eles só descobriram isso quando ela já estava gravida. Ela tinha medo que o aborto pudesse causar alguma complicação futura para ela. Isso causou um tipo raro de câncer na criança, fruto daquela relação incestuosa. Nos primeiros meses, seus pais iam todos os dias, mas depois que adotaram uma menina saudável, eles passaram a ir cada vez menos. Um dia eles não voltaram mais. Eles perderam o interesse naquele corpo tomado pela peste.

Chegou a hora dos remédios. Eles não servem para nada, apenas atrasam o inevitável e lhe garantem mais alguns dias de vida. Dias solitários. Enquanto ministra a dose diária dos remédios, a enfermeira tenta, como sempre, reconforta-lo:

― Não se preocupe, eles vão voltar.

Com a voz fraca e algo que deveria parecer um sorriso ele responde:

― Eu sei.

Quando está saindo, a enfermeira não consegue ouvir o resto da resposta.

“Eles vão voltar.” As palavras ecoam em sua cabeça, mas nada se ouve. “Mas não vai ser por mim.”

Pela primeira vez sente algo novo, além da solidão. Mesmo que ele não entenda isso direito, ele sente ódio. Ódio puro e simples. Mas esse novo sentimento não duraria muito. O caixão lacrado para evitar algum tipo de contaminação impede que seus pais o vejam pela ultima vez.

Eles recebem uma ligação urgente. Sua filha passou mal durante a aula de ballet e foi para o hospital.