O que é medo? Essa é uma pergunta que muitos já devem ter feitos para si mesmos. Por que algo banal e que seus amigos acham graça pode gerar um desconforto quase insuportável em você? A simples definição de medo pode sem encontrada no dicionário, mas nem tudo que molda a mente humana pode ser expresso por palavras.  Cada um sabe o que realmente é medo, mesmo que não tenha se dado conta disso ainda.

Antes de continuar, um pouco de fatos: hoje em dia, muitos tentam reprimir e lutar contra seus medos, para mostrarem um padrão de coragem que os outros esperam dele. Senão fosse o medo, provavelmente a raça humana não teria resistido muito tempo. è o medo que impede que a gente faça merda. Era o medo de ser atacado por animais grandes que faziam nosso antepassados andarem em grupos para se defenderem. Atualmente demos outro nome ao medo: precaução. Sendo assim podemos dizer que, nos dias atuais, sentimos medo quando uma situação inesperada se mostra fora de controle e nossos cuidados se mostram ineficazes, ou seja, não conseguimos compara-lá a nada que nos tenha ocorrido anteriormente para termos alguma ideia de como agirmos. Nessas situações, algumas pessoas sofrem com o “reset no cérebro”: o cérebro simplesmente para de tentar entender a situação e continua a funcionar normalmente, desempenhando as tarefas normais do dia-a-dia: uma sobrevivente do World Trade Center insistia em trocar de roupa antes de sair do prédio, mesmo um avião tendo acabado de atingir a torre. Outro exemplo ocorreu durante um incêndio em uma estação de metrô em Londres, onde alguns passageiros continuavam a esperam seus trens como se nada estivesse acontecendo. Antes que alguém fale, em ambos os casos o “reset” aconteceu com pessoas sem qualquer tipo de problema mental, isso mostra que, por mais que saibamos na teoria o que devemos fazer no caso de um incêndio, por exemplo, o nosso real comportamento em tal situação só poderá ser testado na hora. Pode parecer estranho mas em casos de pessoas perdidas na floresta, crianças pequenas podem ter mais chances de sobreviver, pois elas não entendem realmente que estão em perigo, ao passo que crianças maiores entendem que estão em perigo, mas não tem a mentalidade para decidir o que fazer e se desesperam.

Isso é o que eu chamo de terror real, ou seja, o medo de situações que, por mais que nos preparemos, pode acontecer, como um assalto a mão armada, um incêndio, o elevador travar, etc..

Agora vou falar do assunto principal desse post: o medo psicológico.

Penso no medo psicológico, como aquilo que a gente sente pelo inexplicável. Do mesmo modo que alguns tem medo de algum tipo de punição divina pelos seus atos, em outras épocas tivemos medo das “bruxas” por simplesmente não entendermos o que elas realmente faziam. Quando somos crianças o medo psicológico é muito grande, se fundindo muitas vezes com o medo real. Conforme crescemos, o medo psicológico vai diminuindo enquanto o medo real vai se tornando meio que “padrão” para todos.

Alguns medos psicológicos somem, enquanto outros são alimentados durante anos, sem ao menos sabermos o motivo. Lembro que quando era pequeno, além dos medos normais de uma criança (escuro, ficar sozinho, se perder, etc.) tinha medo das campanhas da Unicef que passavam na Cultura. Não sei bem se isso era medo, mas lembro que sempre me sentia meio estranho quando via uma dessas campanhas.

Nunca mais vi uma dessas campanhas e até hoje devo dizer que ainda não vi nada que tenha realmente me deixado com medo. Sempre gostei de histórias de terror mais elaboradas e a internet está cheia delas. Tirando uma paranoia temporária e uma certa dificuldade de dormir no dia, até hoje não encontrei nada que realmente afete meu senso e bote meu xeque meus medos e precauções.

E vocês? Do que têm medo?

Se existe alguém que esteja acompanhando o blog, deve saber que faz um bom tempo que nada é postado nele. Isso se deve a preguiça desse que vos escreve e também por que estive meio ocupado nos últimos tempos. Vou postar uma história que escrevi. Ela não é de terror (ainda não consegui terminar nenhuma história de terror que comecei) mas acho que ficou legal. Acho que ficou meio melancólica, mas espero que gostem.

Aqui, no meio da cidade, entre prédios e postes, há um velho entregando panfletos. Suas mãos deformadas pelo tempo seguram esses papeis sem a firmeza com que antes seguravam um rifle durante a guerra. Ao invés de uma farda, hoje ele usa um cartaz com os dizeres “Compro e vendo ouro” por cima das roupas já surradas. Ninguém parece prestar atenção nesse velho soldado, afinal nossos velhos heróis são sempre esquecidos perante novos problemas. Seus olhos azuis contrastam com sua pele e cabelos brancos. Esses olhos já viram e choraram por amigos e companheiros abatidos covardemente em batalha. Mas suas lágrimas não são compartilhadas com ninguém, afinal ninguém se importa. Conforme a idade ia tirando tudo dele, ele também deixou de se importar. No mesmo lugar, todos os dias, ele usa o pouco de energia que resta para entregar panfletos, que são ignorados e atirados ao vento, do mesmo modo que sua juventude foi tragada pela pólvora e pelo cheiro de sangue. As pessoas simplesmente passam por ele, como se não existisse. Talvez, ele não exista mais mas não tenha se dado conta disso. A rotina talvez impeça que seu corpo definhe do mesmo modo que todos que estavam a sua volta. Ele já não tem mais nada que se importe. Ele tem apenas seus panfletos. Se alguém perguntar o que está escrito neles, ele não saberá dizer. Do mesmo modo que lutou se saber os reais motivos por trás daquilo, ele entrega seus panfletos sem saber ao mesmo sobre o que são. Hoje, ele parece estar diferente, um pouco tremulo. Ele pode sentir o sangue se esvaindo. Seu coração já cansando das batalhas diárias dá suas ultimas batidas. Ele cai recostado a um poste, os panfletos caem no chão e contrastam com seus cabelos brancos e seu cartaz “Compro e vendo ouro”. As pessoas continuam não se importando com o corpo estirado no chão, a rotina já tirou todo e qualquer sentimento delas. As pessoas veem a morte como algo distante e não se importam com isso. Ele também não devia se importar. Depois de tudo que ele passou, deve ter pensando que poderia ser divertido poder escapar dessa prisão particular que cada um de nós tem ao nosso redor. Prisão que construímos para nos proteger do medo, do caos, da tristeza e do rancor. Para nos proteger da vida e dos outros. Para nos proteger de nós mesmos.