Fiquei meio puto com alguns problemas q eu tive essa semana. Bateram no meu carro, não tó conseguindo cancelar a porra do FIES e, ainda por cima, quase fui atropelado por uma velha. Pelo menos isso me ajudou a ter minar essa ideia q eu tive faz algum tempo.

Para mim, seres perfeitos são extremamente entediantes. Não vejo vantagem em viver uma normalidade maçante. Viver uma rotina que, como um relógio, sempre volta ao inicio após um ciclo completo. Nem tenho certeza se isso pode ser considerado viver. Seres perfeitos apenas passam pela vida. Não sofrem. Não se machucam. Não se revoltam. Não vivem. Porra, e mesmo assim, tentam incessantemente apagar tudo aquilo que eu fui. Tudo que eu sou. E tudo que eu posso ser. Me transformar em algo vazio. Em algo amorfo. Em algo perfeito. Ser apenas mais um ciclo com inicio, meio e fim pré-estabelecidos. Não vai rolar, nem ferrando. O desprezo, o ódio, o amor, a raiva, a agonia. É isso que eu sou. É isso que eu fui e sempre vou ser. Quer gostem ou não.

Situação: minha mae diz que vai fazer carne de porco pro almoço. Para uma pessoa normal isso apenas poderia significar mais gases. Para um judeu, uma ofensa. Mas como não sou uma pessoa normal nem judeu, escrevi isso. Pode ser que tenha uma continuação. Ou não.

Não sabia ao certo que lugar era aquele. Agora tudo não passa de uma breve lembrança. Talvez infantil ou até da minha vida adulta. Não me pergunte coisas que não sei responder. O que realmente importa é que isso aconteceu. Estava escuro, mas consegui ver 3 ou 4 pessoas agachadas formando um circulo ao redor de alguma coisa. Conforme me aproximava conseguia distinguir mais detalhes do quarto e de seus estranhos ocupantes. Havia um cheiro pobre no ar, mas ao contrario do que eu esperava, o aposento tinha uma limpeza digna de hospital. O branco das paredes ofuscava um pouco a minha vista. Estava ficando enjoado com o cheiro de desinfetantes e carne pobre, mas minha curiosidade apagou qualquer extinto de precaução que pudesse ter. Continuei avançando e finalmente vi o que aquelas pessoas estavam fazendo. Eram três homens, um deles careca, suas roupas estavam sujas de lama e sangue. No momento apenas fiquei espantando, mas agora me pergunto como aqueles homens podem ter entrado naquela sala sem tê-la sujado. Eles estavam arrancando a carne de uma carcaça de porco podre. Seus movimentos eram privados de qualquer tipo de consciência. Seus olhos estavam vidrados enquanto mastigavam a carne. O necrochorume escorria de suas bocas, sujando o chão e as roupas. Aquele liquido fétido se espalhava pelo chão e chegou até meus pés que, percebi apenas naquele instante, estavam descalços. A onda de nojo que seria esperada não vem. A curiosidade era maior. Para de olhar para o quarto e olho para mim mesmo. Usava apenas uma camisa branca que ia até meus joelhos. Meus pés estavam sujos e molhados pelo contato com o necrochorume. Continuei andando em volta deles. Eles tinham acabado com a carne e agora estavam roendo os ossos. Seus dentes eram tortos e quebrados e suas gengivas estavam em carne viva. Pedaços do tutano caiam no chão. De repente a curiosidade é substituída pelo medo. Um deles se vira para mim. Parece surpreso com a minha presença. Seus olhos continuam vidrados e seu sorriso mostra que sua boca está negra. Mesmo com o medo crescendo dentro de mim minha atenção se desviou para uma pequena figura em um dos cantos da sala. Parecia uma criança, vestida do mesmo modo que eu, e parecia se divertir vendo aquelas pessoas agindo como animais. Antes que pudesse pedir ajuda ele diz algo que me persegue até hoje: 'Você não pode pedir ajudar a si mesmo. Eu não quero sair daqui. E você também não.' Não me pergunte mais nada, depois disso não consigo mais me lembrar de muita coisa. Tudo que eu sei é que me mudei daquele apartamento na mesma semana. O açougue do andar de baixo havia sido fechado pela vigilância sanitária após eu denuncia-lo. E, cinco anos depois, aquele lugar ainda fedia como um animal morto que, depois de sua carne apodrecer, é deixado ao sol. Não aguentava mais aquilo.