Dando continuidade a minha epopeia de ser um escritor de fim de semana e depois de derrotar minha protelação consegui terminar Spam Emocional. Ficou bem maior do que eu esperava por isso não vou posta-lá de uma vez aqui. Não tenho certeza se fiquei realmente satisfeito com o final dela, mas tá valendo.

Ladies and gentlemen, com vocês a estreia de Spam Emocional.

Spam emocional

“Só pode ser algum tipo de spam.”

Enquanto o diretor do setor de finanças desmembrava todos os gastos e ganhos dos últimos meses o sr. Cougar não conseguia se concentrar. Sabia todas aquelas informações de cor, mas seu velho pai sempre lhe dizia que a atenção era a parte mais importante para gerenciar qualquer tipo de negocio. Por isso sempre deixava seus problemas pessoais em casa, mas nessa terça feira chuvosa algo havia chamado sua atenção.

Anthony Cougar, 43 anos. Típico homem de negócios. Graças aos seus esforços a firma fundada por seu pai se tornou uma importante firma de consultoria de engenharia. Casado há doze anos não teve filhos devido a um problema de saúde de sua mulher. O fato de não terem filhos permitiam aos dois ter um estilo de vida mais livre, sem as preocupações que uma criança pequena daria.

Como de costume, ainda na mesa do café, ele gastava meia hora para verificar seus e-mails. E-mails de trabalho, os pessoais ele verificava no fim do expediente ou quando chegava em casa. Normalmente havia ao menos uma dezena de e-mails de fornecedores e funcionários, mas nessa terça feira havia apenas um. Estranhamente o remetente era seu e-mail pessoal. Ele não se lembrava de ter mandado um e-mail para si mesmo. Devia ser uma brincadeira de algum familiar, mas nem sua mulher sabia seu e-mail do trabalho. Devia ser algum spam. Mas se fosse, porque não foi encaminhado para a lixeira junto com anúncios de casas na praia e remédios que aumentariam eu pênis? Percebeu que estava atrasado, mas antes de deletar o estranho e-mail ele repara no titulo dele “Tá na hora de brincar, pequena cópia perfeita.” Por um breve momento ele se lembra. O balanço. O rio. Uma ponta da corda presa no galho do carvalho. O corpo no rio. Seus braços e pernas dobrados em ângulos estranhos. O sangue tingindo a agua limpa do rio. Aquele sangue, os braços e pernas são iguais aos seus. É o seu sangue que tinge o rio. São os seus olhos que fitam o verdadeiro culpado.

­―Você está bem, Tony?

O chamado de sua mulher o trás de volta a realidade. A visão daquele longo cabelo loiro o faz esquecer o que estava pensando. O e-mail foi deletado.

Passa a mão sobre a testa e percebe que está suando apesar de estar fazendo frio. Resolve tomar outro banho antes de ir para o escritório. Queria que aquelas memorias fossem deletadas. Mas elas sempre estariam ali, não importando quantos banhos tomasse ou quantos terapeutas visitasse. Haveria sempre o sangue, os fiapos da corda balançando ao vento. Haveria sempre o outro eu.

―Algo a acrescentar, sr. Cougar?

A reunião acabou. Agora todos o fitam esperando mais algumas palavras para darem a reunião por encerrada.

―Se vocês realmente ouviram o que o sr. Johnson disse não há mais nada a dizer. Se levantou, observou a surpresa no rosto de todos e foi embora.

Quando deu por si já estava em seu escritório. No canto norte do ultimo andar da sede da empresa, seu escritório, assim como o prédio de três andares, era simples, mas muito aconchegante. Ladeado por grandes janelas, o prédio era bem iluminado ao contrario

(da cova onde meu outro eu está)

do barracão onde seu pai havia começado a firma há quase 40 anos. Terminada a reunião não teria mais nada de importante para fazer pelo resto do dia, a não ser uma reunião com um fornecedor perto do fim do expediente. Arrastou sua cadeira para perto da janela, ascendeu um cigarro e ficou admirando a paisagem, hoje tomada por prédios, mas, quando inaugurou a nova sede há 10 anos aquele bairro era totalmente vazio. Olha para baixo e vê seu Mercury Cougar preto estacionado. Poderia pagar qualquer um para ter o carro pronto imediatamente, mas o estava montando sozinho em suas folgas. Lembrava-se do pai se vangloriando por ter ganhado um processo na justiça e a Ford seria obrigada a pagar para usar o sobrenome da família. É verdade que foi pouco dinheiro, mas ele sempre ria quando o pai comentava na mesa de jantar ou durante uma reunião de família: “Ei, já falei pra vocês da vez que ganhei um processo em cima do grande Henry Ford II?”

A reunião com o fornecedor foi rápida e, como havia alguns minutos livres, resolveu conferir seus e-mails pessoais no trabalho. Aquilo era só um spam. Quando vê o e-mail no topo da lista ele não acredita no que vê. Se ouvisse falar de algum caso parecido, iria achar que era mentira. Mas as letras gravadas no monitor não deixavam duvidas. O remetente era seu e-mail do trabalho. O titulo estava gravado em seus olhos “É a segunda vez que você me exclui da sua vida. Não faça mais isso, tá?”

O sangue. O pneu descendo a correnteza. O grito e o som de osso quebrando.

O prédio já está vazio. Ninguém pode ouvir seus gritos.

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