É uma manhã típica. Café com leite e torradas enquanto assiste o noticiário. Material de pesquisa para histórias. Quando está saindo para a escola uma notícia chama sua atenção. O corpo estirado em um beco qualquer. A saia rasgada. Os cabelos ruivos da vitimas desgrenhados. Os cortes profundos e irregulares, típicos de uma faca sem corte. O repórter não fala, mas ele tem certeza que não houve violência sexual. Sabe que se procurarem pelas proximidades encontrarão a faca. Uma faca grande, sem corte e com sinais de ferrugem perto do cabo. Pode ser apenas uma coincidência, mas ele sente que não. O delegado diz que ela foi morta, aproximadamente, às duas da manhã.

Eles estão errados. A pesquisa que ele faz ao banco de dados da policia durante o trajeto da escola só serve pra confirmar o que ele esperava. Há apenas um erro no relatório: a hora da morte.

Ele previu o futuro. Ele a matou enquanto escrevia no seu notebook. São suas mãos que deviam estar sujas de sangue. Mas ele não fez nada. O mundo está cheio de maníacos dispostos a matar sem motivo, mas mesmo assim ele se sente culpado. Alguns teriam se desesperado com a culpa.

Ele vê uma possibilidade. Como não aproveitar a chance de se livrar de todos que o incomodam apenas apertando algumas teclas? Seria louco se não o fizesse. Todos sempre falam de livre-arbítrio e de moral, mas todos esses valores caem por terra quando se tem a solução para todos seus problemas ao alcance da mão.

Afinal, antes de sermos humanos somos animais. Animais vis e sádicos que se alimentam da dor de seus semelhantes. Até o mais puro dos seres pode se corromper com o poder. Os mais repugnantes dos seres só podem sonhar com o dia que serão os caçadores ao invés da caça. Todos queremos estar no topo e não nos importamos com quem deixamos pras trás.

Para ele os dias seguiram normais, mesmo que o fundo da sala de aula fosse ficando cada vez mais vazio. Nada mais de emboscadas depois da aula, materiais roubados, roupas sujas de sangue e suas paradas pra vomitar o que o estomago ferido não consegue segurar. Bytes de informação eram transformados em corpos estirados e despedaçados de todas as formas possíveis. Ninguém poderia culpa-lo por falta de imaginação. Era apenas uma feliz coincidência ter encontrado alguém capaz de tornar suas palavras reais. Como o invasor mesmo disse, ele previa o futuro.

Ele estava no controle. Ele estava no topo, e quando se está no topo, ou você se mantem lá ou deve estar preparado pra encarar uma longa descida.

0 comentários:

Postar um comentário