Lançar um carro novo não é nada fácil. Não se pode simplesmente esperar que o consumidor descubra por si só que o carro é um bom negocio, já que a maioria não é capaz de achar significado plausível em termos técnicos. É ai que o pessoal de marketing e vendas aparece. Não importa o que as pessoas alegam, na maioria das vezes a compra de um carro é pura e simplesmente emocional. Sabendo disso, o marketing faz uso das boas e velhas siglas (que nem sempre representam a verdade) e opcionais para atrair o lado irracional do consumidor, que depois da compra realmente ira descobrir se o carro é bom ou não.

O uso de siglas é algo comum em qualquer montadora e agora vou falar o que essa letrinha R fez no Fiat Uno e posteriormente no Fiat Palio.

Uno 1.5 R

uno1.5r

O ano é 1987, o mercado brasileiro vê o crescimento de um mercado até antes pouco explorado: o dos hatches esportivos que tem como representantes na época Gol GT, Escort XR3 e o Uno 1.5 R. Por ter o menor propulsor do grupo tinha aceleração 0-100 km/h e velocidade final piores que seus concorrentes (12,0 s e 174,3 respectivamente, números muito próximos dos do Escort XR3 1.6). Seu motor era o mesmo 1500 do Premio, mas com um comando de válvulas mais “bravo”, taxa de compressão mais alta e carburador de corpo duplo, apresentava ganho de 15 cavalos, indo para 86, e torque de 12,8 mkgf. Com pneus Pirelli que suportavam até 210 km/h, peso de 870 kg, discos ventilados e cambio curto, esse Uno apresentava um comportamento dinâmico bem interessante, principalmente em estradas sinuosas.

Uno 1.6 R

uno 1.6 r

Evolução direta do 1.5 R, seu motor, ainda carburado, não apresentava mudanças significativas de potencia e torque mas era mais elástico que o antigo 1.5. Com o advento da injeção multiponto em 1993 seu motor passou a render 92 cavalos e 13 kmgf e graças ao cambio curto, pneus similares ao do 1.5 e de 895 quilos, esse Uno ia de 0 a 100 km/h em 11,8 s e chegava a pouco mais de 180 km/h. Em 1992 teve início a Formula Uno, onde os 1.6 R (no início carburados) com uma preparação leve padrão feita dela Greco Competições chegava a 105 cavalos (mesma potência obtida com injeção multiponto em 1993) e geometria de suspensão com cambagens dianteira e traseira que propiciavam saídas de traseira em curvas fechadas. Com custos reduzidos (50 mil reais/ano na Aspirados e 70 mil/ano na Turbo)a Formula Uno atraiu muito competidores e se manteve com grande destaque até a chegada do Palio em 1997, quando passou a ser uma espécie de categoria de acesso para a Formula Fiat.

Falando em Uno não posso me esquecer, mas até que deveria, do:

Uno 1.0 R

fiat uno 1.0 r

Feito por manolos para manolos, o Uno 1.0 R mostra o que poderia ter acontecido se já nos anos 90 tivesse começado a moda de carros pseudo-esportivos. Seu monstruoso motor 1.0 pode variar de 48 até 75 cavalos em suas versões originais, mas pode chegar a 300 cavalos com o uso de turbo com algumas toneladas quilos de pressão, sua aceleração 0 a 100 km/h pode variar de 24,6 s até 13,8 s e sua velocidade final pode variar entre 133 a 153 km/h. Porém, de acordo com alguns depoimentos esse carro devidamente preparado e possuído por entidades místicas e maléficas pode chegar a mais de 250km/h e fazer o 0 a 100 em 5 s. Deve-se observar que não foi feito nenhum exame para sabermos que tipo de drogas as supostas testemunhas estavam usando, então esses relatos não são muito confiáveis. Brinks rsrs.

No inicio, o esportivo da família Palio era o 1.6 16v e a sigla R ficou perdida em meio a classificados de Unos usados que quase sempre se encontravam em estado de conversação questionável, até que:

Palio 1.8 R

Fiat_Palio_R

Alguns fãs do Uno podem ter chiado falando que o Palio não mereceria a sigla R já que basicamente ele é um Palio 1.8 normal com alguns acessórios que não melhorariam o desempenho. De certo modo eles podem estar certos quando se fala apenas de números: graças a um cambio um pouco mais curto nas marchas inicias e 5 cavalos a mais no motor de origem GM o 0 a 100 km/h é feito em 9,2 s e velocidade máxima de pouco mais de 190 km/h (o HLX 1.8 fica 10,9 s e 180 km/h respectivamente), ou seja, mudanças tímidas demais para chama-ló de esportivo. Já o comportamento dinâmico melhorou sensivelmente, mas não de maneira estrondosa. Mas, como disse no inicio, a compra de um carro é quase sempre emocional e não se pode negar que a letra R em um Fiat só perde em apelo para as palavras Turbo e Abarth. Como ficaria caro demais colocar um turbo no motor 1.8 ou trazer um da Europa para colocar em um carro popular e a Fiat trata a Abarth na Europa como uma marca independente, com rede de concessionárias própria, a solução mais simples foi colocar uma letrinha R nas laterais e pronto. E a Fiat acertou em cheio: em 2006, a versão 1.8 R correspondeu por aproximadamente 80% dos Palio 1.8 vendidos.

Hoje em dia é ainda mais difícil achar um Uno 1.5 ou 1.6 R em boas condições. A maioria foi malhada em rachas ou sofreu modificações mecânicas sem o devido cuidado para com a funcionalidade e durabilidade. Unos em boas condições costumam ter preços bem acima que os mostrados em tabelas de carros usados. Uma solução que poderia sair mais em conta seria comprar um Uno normal e depois equipa-ló com os adereços estéticos e equipamentos mecânicos das versões bravas (no caso no Uno 1.0 R normalmente só colam os adesivos). Alguns podem achar estranho e que é saudosismo demais elogiar tanto um esportivo com mais de 10 anos e com um desempenho inferior a alguns modelos 1.6 normais de hoje. Concordo em termos, comparar um carro de mais de 10 anos com modelos mais atuais chega a ser injusto em alguns casos, mas não estamos falando apenas de centenas de quilos de ferro com um motor dentro, estamos falando de carros que nos trazem emoções que os carros novos caretas não podem trazer.

Meu lado racional que me desculpe, mas potencia, prazer de dirigir e aparência, as vezes, são mais importantes que consumo e espaço interno.

 

 

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